Por Maria Cristina Lahr
Tempo de leitura: aproximadamente 7 minutos
Na semana retrasada começamos um papo muito gostoso com o Mordomo Benê Queiroz para entender um pouco mais da profissão de mordomo e tentar mensurar as principais diferenças entre o trabalho do concierge e do mordomo em um meio de hospedagem de grande porte (se você ainda não leu a primeira parte da entrevista clique aqui). Hoje, vamos continuar essa conversa e buscar desenhar as competências primordiais ao profissional da hotelaria.
No texto da semana passada (se você ainda não leu clique aqui) Fran nos explicou as possibilidades de formação na hotelaria e a importância de darmos preferência por mão-de-obra qualificada em nossos organogramas. Neste artigo, e a partir da conversa com o Sr. Queiroz, vou buscar apontar perfis, qualidades, e saberes que fazem dos hoteleiros profissionais competentes.
Para você, hoteleiro ou aspirante que vem nos acompanhando, acredito que vale a pena olhar para dentro e se fazer uma pergunta: quais dessas características já desenvolvi e quais ainda estão em processo de amadurecimento? Conhecer-se como profissional e identificar necessidades de aperfeiçoamento em alguns assuntos pode ser sobremaneira importante não só para o crescimento, como também para a satisfação profissional.
E se você é proprietário de um pequeno meio de hospedagem, acredito que este post pode contribuir para identificar profissionais que buscam a excelência em processos seletivos e até ajudar na decisão de temas para programas de treinamentos e desenvolvimento de seus colaboradores.
Conforme prometido, segue a segunda (e última) parte da entrevista. Espero que você goste e aproveite as informações desse post, boa leitura. Ah, e não se esqueça do café!
O dia-a-dia do mordomo em um hotel de luxo
Quando perguntei ao Benê Queiroz sobre a rotina de um mordomo, a resposta dele veio prontamente e em uma única palavra: “loucura”. Ele continua dizendo da necessidade do trabalho em equipe e da integração de todos os departamentos para garantir a satisfação do hóspede. Acredito que quem já teve a oportunidade de trabalhar em um meio de hospedagem (de qualquer tamanho e categoria) conhece a máxima que “não fazemos nada sozinhos”.
A excelência vem da sintonia: não adianta o mensageiro transportar as bagagens do hóspede com zelo se o mordomo, ao desfazer as malas, danificar algum item. O contrário também é verdadeiro. Um check-out demorado pode comprometer todo o encantamento com a estada.
No caso do mordomo, Benê Queiroz explica que além de contar com os colegas do hotel, é necessário que ele tenha uma rede de relacionamentos no que tange aos serviços externos: um buquê de flores que precisa estar na suíte antes de um hóspede chegar, uma máquina de moer café entre tantos outros pedidos que podemos considerar inusitados. Parcerias, proatividade e agilidade são essenciais para que o serviço aconteça.
Sr. Queiroz garante que há dias bem puxados em que não há tempo de respirar e existem outros em que “dá pra sair caçando serviço”: ajudar as camareiras na limpeza de rodapés (esse é um trabalho ingrato, confesso) e testar as lâmpadas das suítes até encontrar uma que esteja queimada para fazer a troca.
Dicas do mordomo aos profissionais de hotelaria
- Dedique-se ao seu patrão: o hóspede;
- Especialize-se: procure instituições de ensino que tenham credibilidade no mercado, leia livros, assista filmes, exercite seus conhecimentos;
- Aprenda idiomas;
- Confie em seu professor, aproveite os ensinamentos que vocês podem construir juntos;
- Apaixone-se e faça mais, faça seu melhor;
- Lembre-se: a cereja do bolo é a soma das partes;
- Insista e busque a perfeição.
Despedida
Já falamos aqui no blog que a hospitalidade é marcada por cinco tempos diferentes: receber, hospedar, alimentar, entreter e despedir-se (se você não leu esse post clique aqui). Meu querido mordomo, esse profissional que pulsa hospitalidade termina dizendo da emoção, da alegria em falar do assunto. E despedir-se é isso, encontrar tamanho prazer no encontro e desejar que ele volte a acontecer. A paixão que o senhor tem pelo que faz é perceptível e inspiradora. Obrigada!
Espero te ver em breve, professor.
Competências: conhecimento, habilidades e atitudes
A entrevista com o mordomo Benê Queiroz me fez enxergar um profissional competente. Mas o que exatamente é isso? Ser competente é ter conhecimentos, habilidades e atitudes para realizar tarefas, encontrar soluções e alcançar objetivos.
Conhecimentos: são os saberes, as teorias, necessários para o desempenho de determinada função. Eles são construídos através de cursos, estudo, busca de novos aprendizados. Para atuar como recepcionista de um meio de hospedagem, o profissional precisa conhecer os documentos necessários para o check-in de hóspedes, dominar as ferramentas (como sistema de informação utilizado), ter noção das técnicas de atendimento entre tantos outros fundamentos.
Habilidades: são adquiridas, normalmente através da prática, da repetição e da experiência do fazer. Um exemplo que uso muito nas minhas aulas é a camareira: arrumar uma cama de hotel pode ser um desafio nos primeiros dias de trabalho, mas, com a prática e a recorrência vai ficando mais simples, mais fácil e mais rápido.
Atitudes: são sobre o que fazemos com nossos conhecimentos e habilidades. Depende do querer individual, da disponibilidade, disposição e da entrega. Na minha opinião, o mais importante aspecto que sustenta esse tripé da competência. Não adianta eu saber fazer, ser habilidosa e ter experiência em determinada tarefa se eu não desejar e me empenhar em realizá-la.
Tenho uma ex-aluna, chefe de recepção em um famoso hotel do interior, que me deu um excelente exemplo sobre esses três conceitos e vou contar aqui para ilustrar: Ela mencionou que na adolescência fez um curso de auto maquiagem. Então, tinha conhecimento dos produtos adequados a pele dela, sabia combinar as cores, tinha aptidão com os diversos tipos de pincéis mas que em alguns dias ela simplesmente não queria se maquiar. Todo conhecimento, a experiência e a habilidade não eram suficientes para que ela se apresentasse todos os dias maquiada na estação de trabalho. Além de tudo isso é preciso querer fazer!
Se você quer saber mais sobre o assunto veja um vídeo clicando aqui.
Mas então quais são os conhecimentos, habilidades e atitudes que um hoteleiro precisa desenvolver?
Obviamente falarei aqui sobre as principais competências do hoteleiro no meu ponto de vista e o meu parecer é baseado em conversas com os mais diferentes profissionais da área como essa que tive com o mordomo Benê Queiroz e os muitos anos de experiência como docente do setor da hospitalidade. Isso não significa que minha opinião seja a única ou absolutamente verdadeira. Sendo assim, eu te convido a contribuir com sua opinião para enriquecer esta lista. Vamos lá:
Conhecimentos:
Em idiomas
Em informática
Em sistemas de informação (CMNet, Ópera, Desbravador, Net Hotel)
No negócio em que trabalha (regras, procedimentos e políticas, estrutura física, hierárquica e público alvo)
Em técnicas de atendimento
Habilidades:
De comunicação (na língua mãe e em outras)
Em manter relacionamentos interpessoais
Em trabalhar com o público
Em criar e solucionar desafios
Em liderança (dependendo do cargo em que ocupa)
Em organizar o trabalho
Em gerir conflitos
Em controlar-se emocionalmente
Em se atentar a detalhes
Atitudes:
Cordialidade
Empatia
Pontualidade/ assiduidade
Postura profissional adequada
Boa apresentação pessoal
Respeito à diversidade
Paixão por fazer o que faz e satisfação em servir
Orgulho de sua profissão
Flexibilidade
Proatividade
Dinamismo
Facilidade em trabalhar em equipe
Disponibilidade para trabalhar aos finais de semana e feriados
Amabilidade
Buscar constante desenvolvimento
Discrição
Tentar sem medo de errar, afinal de contas só não erra quem não arrisca!
Sorrir (sempre!)
Perceberam que a lista de atitudes é a maior? Como docente, sempre acreditei na possibilidade de aprender. Tudo pode ser aprendido, mas certamente é mais fácil incorporar conhecimentos e habilidades em nossas rotinas que atitudes. Ou seja, é mais fácil eu aprender (ou ensinar) o procedimento do check-in que educar para o desenvolvimento da empatia.
Queremos saber de vocês, quais dessas características você enxerga em você e quais são as que você ainda precisa desenvolver. Se você é um gestor de equipe, conte pra gente quais são os conhecimentos, habilidades e atitudes mais presentes na sua equipe e aqueles que precisam passar a aparecer. Existe alguma característica não listada que você incluiria nesta relação?
Acredito que pensar sobre isso seja o primeiro exercício para nos tornarmos melhores enquanto profissionais. Ah, e antes que eu me esqueça, digo sempre aos meus alunos que, jamais conheci um excelente profissional, que não fosse também um ser humano e um cidadão incrível. Pense nisso!
Um abraço e até logo;
Cris
Maria Cristina Lahr, a Cris, é hoteleira e atua na docência e na consultoria de negócios hospitaleiros. Saiba mais sobre ela no BeMyGuest, acessando o link
Obrigado professora Cris e parabéns pelo carinho e profissionalismo do seu artigo altamente competente sobre nossa profissão.
ResponderExcluirDesejo muitas vagas para nossos profissionais apaixonados pela hotelaria e que eles cresçam nos nossos hotéis à espera de pessoal qualificado.
Abraços mil.
Eu que te agradeço a oportunidade, querido Sr. Queiroz! Foi um prazer e uma honra escrever esses artigos inspirados em seu trabalho apaixonado. Que o sr. siga inspirando esses profissionais com sua competência, vontade e amor pelo servir.
ExcluirUm grande abraço e que possamos nos ver em breve!