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Vamos falar de protocolos de limpeza?

 Por Maria Cristina Lahr

Tempo de leitura: 6 minutos






Já não era novidade para os meios de hospedagem que os hóspedes valorizam quartos e instalações limpas. Com a pandemia de COVID- 19, a limpeza e a higienização passaram a ser mais que desejadas - necessárias. Os meios de hospedagem adotaram protocolos especiais durante a pandemia e a pergunta que não quer calar é: será que esses protocolos serão mantidos após esse período tão conturbado para o nosso setor?

É evidente que esses protocolos elevaram, de forma acentuada, os custos da governança: mão-de-obra, equipamentos de proteção individual especiais (avental, máscaras, face shield etc.) para camareiras, arrumadores e supervisores, produtos e equipamentos de limpeza e sanitização especiais (todos devem ser aprovados pela Anvisa). Isso tudo são custos, claro, mas que vão se reverter na tal da confiança que falamos anteriormente em um artigo (se você ainda não leu, leia aqui).

 Nas minhas conversas com os profissionais da hotelaria, tenho percebido que os protocolos “anti-COVID” adotados por muitos meios de hospedagem em meados de 2020, já foram afrouxados ou simplesmente deixados para trás. Na minha opinião essa é uma decisão precipitada.

No artigo de hoje, vamos conversar sobre a necessidade de manter os protocolos e transformá-los em padrão na hotelaria.


Se tivéssemos fazendo corretamente, não precisaríamos ter mudado!


Desde quando saíram os protocolos de limpeza e sanitização para os meios de hospedagem no Brasil, em meados de 2020, venho fazendo análises com meus alunos e colegas da área: se tivéssemos fazendo corretamente a limpeza das unidades habitacionais, não precisaríamos ter mudado quase nada nos nossos processos. Mas, infelizmente, muitos meios de hospedagem, não sei se por conta de custos, falta de conhecimento ou de habilidade vinham trabalhando de forma duvidosa. Vou dar alguns exemplos:

- Sabemos como é importante o uso de protetores de colchão e de travesseiro. Eles aumentam a vida útil dessas peças, mas em muitos meios de hospedagem eles não eram trocados toda vez que o hóspede fazia o check-out. Sim, por mais desagradável que isso possa parecer, empresas hoteleiras só faziam a troca desse enxoval quando notavam “sujeira aparente”, que, por sinal, é um conceito bem desatualizado. E não eram só os protetores não, em muitos casos os cobertores também entravam nesta dança. Com a pandemia, o uso e a troca desses itens foi entendida como necessária. Mas será que isso não deveria estar acontecendo com ou sem Corona vírus? 

- Os produtos de limpeza de uso corporativo ou profissional são essenciais para garantir a higiene de locais usados por várias pessoas, como os meios de hospedagem, por exemplo.  Com os protocolos de retomada da hotelaria, o uso de produtos de limpeza específicos e registrados pela a Anvisa e equipamentos de sanitização (como a luz ultravioleta e o ozônio) foram as orientações claras. Agora, pense comigo, muitos meios de hospedagem ainda utilizavam (ou utilizam) produtos de uso doméstico (como sabão em pó, água sanitária e pinho) para uma limpeza que não é residencial. Pelo jeito, a hotelaria, tinha como premissa que todos os hóspedes estavam/ estão saudáveis. Será que podemos continuar com essa hipótese?

- Quanto ao equipamento de proteção individual, falo sempre aos meus alunos que um dos principais para quem trabalha com a limpeza em geral é o nojo. Sim, além de luvas, sapato fechado e antiderrapante, ter nojo é fundamental. Eu já vi, muitíssimas vezes, e você (que trabalha na hotelaria) deve ter visto também camareiras retirarem o enxoval servido (usado, sujo) e o lixo dos hóspedes sem luva. Assustador, não é? Os protocolos de higienização criados para a pandemia ditam que esse serviço deve ser feito com luvas, máscara, face shield e avental, além de touca e sapatos fechados. Novamente, antes da pandemia, os hóspedes não poderiam estar doentes? Entende por que o nojo é essencial?


Bom, mas o que eu estou tentando dizer aqui, é que precisamos elevar o nível da limpeza das unidades habitacionais para atendermos nosso hóspede com segurança em meio a pandemia ou não. 


Orientações para você garantir a qualidade da limpeza do seu estabelecimento


Seguem algumas dicas simples, mas que podem mudar os resultados da limpeza do seu meio de hospedagem:


- Tenha em mente que todos os hóspedes carregam microrganismos patogênicos (aqueles que podem provocar doenças) por mais saudáveis que possam parecer. Essa deve ser a premissa;

- Crie o POP (procedimento operacional padrão) dos diferentes tipos de limpeza que seu meio de hospedagem oferece (aeração, arrumação, limpeza de saída e limpeza periódica);

- Dê treinamentos à sua equipe. Todos os colaboradores (fixos ou temporários) devem conhecer e praticar os POP estabelecidos por sua empresa;

- Use protetores de travesseiro e de colchão e troque-os em todo check-out. Deixar de fazê-lo pode parecer uma economia, mas te garanto, é uma economia boba e que (ao contrário) pode te dar muitos prejuízos;

- Adote produtos de limpeza de uso profissional. Existem várias marcas sérias no mercado. Lembre-se que o material de limpeza que é vendido em supermercados é de uso doméstico e não são adequados à estabelecimentos com alto fluxo como aqueles que comercializam hospedagem. Água sanitária, e outros produtos conhecidos no mercado, são efetivos em residências, mas não devem ser usados em meios de hospedagem. Além disso, os produtos à base de cloro podem causar problemas à saúde dos colaboradores. O peróxido de hidrogênio, por exemplo, substitui com benefícios os produtos clorados;

- Incorpore nos POP do seu meio de hospedagem kits de panos de limpeza onde cada unidade habitacional seja limpa com um deles e após o uso esse kit seja encaminhado à lavanderia (os processos profissionais de lavagem de panos são muito mais eficientes e efetivos que a lavagem na mão);

- Incentive o uso de equipamentos de proteção individual. Eles são de uso obrigatório e é responsabilidade da empresa fornecer esses equipamentos ao colaborador. Dê treinamentos aos seus funcionários para que eles realmente entendam a necessidade do uso;

- Repense o uso de cobertores. Se você não costuma lavar cobertores a cada check-out talvez seja mais interessante utilizar o duvet. Você conhece essa peça? O duvet é uma capa de edredom muito mais fácil (e barato) de lavar que um cobertor ou até um edredom. Uma outra opção é a utilização de mantas de microfibra que são leves e fáceis de lavar e secar.

- Pense em trocar vassouras e rodos por mops. Os mops foram desenhados para garantir a ergonomia de colaboradores que passam 8 horas por dia utilizando esses equipamentos. Mais um exemplo de  que o barato acaba saindo caro. O uso constante de vassouras e rodos pode prejudicar a saúde da coluna do seu colaborador e até afastá-lo do trabalho.

- Entenda quais são os produtos químicos utilizados na lavagem do seu enxoval. Se você tem uma lavanderia própria lembre-se que não deve usar produtos de uso doméstico como Omo, Brilhante, Ariel, Confort ou água sanitária. E se você terceiriza a lavagem, consulte a lavanderia para entender e analisar se os produtos que ela utiliza garantem à higienização necessária para prestadores de serviço.

Se você está achando isso tudo muito complicado, se não sabe por onde começar a criar um POP, se não utiliza ainda produtos profissionais ou se tem alguma dúvida sobre esse (ou outros) assuntos procure por nós. Somos especialistas em operação de meios de hospedagem e treinamentos de equipes e podemos e queremos te ajudar. Entre em contato conosco por esse e-mail e vamos pensar juntos na melhor maneira de te assessorar.

Conte pra gente nos comentários, quais foram os protocolos que vocês utilizaram e utilizam para a limpeza das unidades habitacionais do seu meio de hospedagem?

Um abraço e até breve;

Cris 

Maria Cristina Lahr, a Cris, é hoteleira e atua na docência e na consultoria de negócios hospitaleiros. Saiba mais sobre ela no BeMyGuest, acessando o o link

Créditos da imagem: <a href='https://br.freepik.com/vetores/negocio'>Negócio vetor criado por jemastock - br.freepik.com</a>


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