Por Maria Cristina Lahr
Tempo de leitura: 7 minutos
Todo maquinário, instalação e equipamento começa a ser depreciado no momento em que passamos a utilizá-los. Ou seja, ao inaugurarmos um meio de hospedagem ele começa a se desgastar.
A depreciação, segundo o dicionário financeiro “é a perda de valor de um bem decorrente de seu uso, do desgaste natural ou de sua obsolescência. Na contabilidade das empresas, essa depreciação é registrada como um percentual do valor contábil do bem que é descontado ao longo do tempo, de acordo com sua expectativa de vida útil”.
Quando pensamos em um meio de hospedagem, podemos elencar inúmeros bens que podem ser depreciados, desde o enxoval até equipamentos de lavanderia, computadores e maquinário de cozinha como fornos combinados, batedeiras e câmaras frias.
O custo com a depreciação é um dos maiores custos existentes em um meio de hospedagem (isso se dá devido ao tamanho dos imóveis e a quantidade de equipamentos e maquinários necessários para esse tipo de operação), mas, apesar disso, muitas empresas desse segmento sequer considera esses custos em suas apurações de resultados e esse pode ser um sinal de atenção.
No artigo de hoje, tratarei da importância de considerar a depreciação na gestão de custos de meios de hospedagem e mostrarei que a falta desses cálculos pode gerar prejuízos e até a falência de muitos meios de hospedagem.
Para entender a depreciação
“Tudo que é usado por uma empresa apresenta uma desvalorização contábil com o passar dos anos”. Essa é outra definição de depreciação. Para se aprofundar no conceito indico a leitura desse artigo.
Vou dar um exemplo bem simples: imagine que Amélia, uma boleira de mão cheia, faça bolos em sua casa para vender. Ela estudou confeitaria e entende que precisa calcular os custos dos produtos para chegar no preço de venda de seus doces. Então ela soma o que gasta com ingredientes, embalagem, gás, energia elétrica, água, acrescenta o valor do seu trabalho e pronto, tem o valor que deve cobrar de seus clientes. Será que Amélia pensou em tudo?
Amélia se esqueceu que para produzir seus doces ela utiliza maquinários e equipamentos que tem uma vida útil, ou seja, eles não vão durar para sempre. As formas onde ela assa os bolos, o saco de confeitar e as espátulas, além do forno, da geladeira e da batedeira. Já parou pra pensar que vai chegar um dia que será necessário fazer a troca do forno e até uma reforma na cozinha?
Se Amélia não se atentar para esse “pequeno detalhe” (que de pequeno não tem nada) logo ela terá problemas. Amélia precisa pensar nesses custos e “separar” recursos para quando esse dia chegar. Além de somar esse custo a seus produtos, Amélia precisa definir uma maneira de separar esses valores. Concordam comigo?
Vamos levar o exemplo de nossa boleira para os meios de hospedagem. Imagine que você juntou suas economias a um financiamento que fez no banco (e vai pagá-lo em 10 anos) para abrir seu meio de hospedagem. Você pensou em tudo com muito carinho: escolheu (ou construiu) o prédio a dedo, comprou equipamentos, mobiliário, maquinário, enxoval, louças, decoração e tudo mais para seu meio de hospedagem funcionar. Então você estudou seus custos fixos (folha de pagamento, materiais, aluguel, impostos etc.) e os custos variáveis (energia, telefonia e internet, tv a cabo, material de limpeza, alimentos e bebidas etc.), analisou seus concorrentes, previu em quanto tempo teria o retorno de seu investimento e definiu, ufa, enfim, os valores de suas diárias.
Todos os meses você paga seus fornecedores, seus colaboradores, seu financiamento e segue alegre e feliz, imaginando que o que sobra dessa conta chama-se lucro. Será que é isso mesmo?
Lembra do caso da nossa boleira Amélia? Assim como no caso dela, vão se passar alguns anos (e te digo que não são mais que dois) e você perceberá que precisa pintar os apartamentos, trocar o enxoval e modernizar seu equipamento audiovisual do setor de eventos.
Você já deve ter ouvido falar que a maioria das empresas brasileiras não dura nem dez anos e que uma em cada cinco fecham suas portas após o primeiro ano de atividade. Leia mais sobre esse assunto aqui. O Sebrae tem um estudo bem interessante neste sentido que você pode ler neste link.
Voltando ao nosso exemplo: assim como no caso da Amélia, o meio de hospedagem não tem um boleto chamado “depreciação” para pagar. Ambos precisam incluir esse custo em suas rotinas, caso contrário a diferença entre a receita e os custos e despesas será chamado de lucro sem considerar esse importante custo com a depreciação.
E quanto representa os custos com depreciação?
Para escrever esse artigo, utilizei como base o livro de Mário Petrocchi – Hotelaria, planejamento e gestão. Neste livro existem muitos dados interessantes sobre o assunto que estamos trabalhando.
Nele o autor apura que os custos com depreciação podem chegar a ser 39% dos custos fixos e 27% dos custos gerais, ou seja, um valor muito próximo ao custo de mão de obra da média dos hotéis brasileiros (27% da receita). Ou seja, é muito para passar despercebido ou nem ser considerado, você não acha?
O custo de depreciação é diferente do custo de manutenção?
Sim! O custo com a manutenção é um custo que proporciona o aumento da vida útil de determinado equipamento ou maquinário. Por isso é muito importante que os meios de hospedagem trabalhem e invistam na manutenção preventiva, ou seja, que acompanhem equipamentos, instalações e maquinários para que eles não cheguem a quebrar. As intervenções de manutenção devem ser feitas antes que isso aconteça. Dependendo do maquinário, a manutenção preventiva pode ser até 40% mais barata que a manutenção corretiva (aquela que é feita após o problema acontecer, ou seja consertar o que foi quebrado ou parou de funcionar custa mais caro!).
Como calcular o valor da depreciação do seu meio de hospedagem?
Embora não seja um processo difícil, trata-se de algo trabalhoso. É preciso listar todos os equipamentos, maquinários e entender qual é a vida útil desses equipamentos. No livro do Mário Petrocchi, ele apresenta uma tabela com os principais equipamentos utilizados na hotelaria e suas respectivas vidas úteis.
A partir da vida útil do equipamento e de seu valor no mercado podemos calcular quanto precisamos reservar mensalmente para que tenhamos o montante quando for a hora de uma nova compra. Vou dar um exemplo. Vamos imaginar que você tem uma pousada com 10 unidades habitacionais. Em agosto de 2021 você comprou 10 televisores novos para substituir os antigos. Cada televisor custou R$1200,00. De acordo com estimativas de Mário Petrocchi, sabemos que a vida útil de uma televisão em um hotel é de 6,12 anos. Sendo assim, em outubro de 2027 você precisará ter um montante de R$12.000 (corrigidos) para substituir esses televisores. Sendo assim, será necessário separar (contabilmente) aproximadamente R$163,00 mensalmente para esse fim.
Assim como fizemos com os televisores é necessário fazer com o enxoval, a câmara fria, os equipamentos de lavanderia, o mobiliário e assim vai.
Se retomarmos o caso da Amélia, imagine que ela não tenha se atentado a essa questão. É possível que em cinco ou seis anos ela tenha que comprar um fogão novo. Se ela não tem essa reserva para comprar o equipamento à vista, é provável que ela compre em prestações. E o que isso significa: ela compra um fogão e paga por um e meio. Ou seja, ela vai arcar com os juros que estarão embutidos na prestação do fogão.
Mas você pode estar pensando, um fogão não é tão caro assim, Cris. Tá certo, mas voltemos aos televisores. Em um meio de hospedagem não estamos falando de um fogão, um televisor ou um jogo de lençol. Os números são escalados proporcionalmente ao tamanho do hotel e a quantidade de Unidades Habitacionais. Entende que é aí que mora o perigo?
Lembra quando supomos que você fez um financiamento de 10 anos para abrir o hotel? Em dois você precisará trocar os lençóis, em 6 os televisores em 7 o mobiliário. Deu pra perceber a importância de estar financeiramente preparado para isso?
Queremos saber: em seu meio de hospedagem você considera a depreciação na apuração de seus custos? Quando você calcula o valor de sua diária você soma o custo com a depreciação?
Conte pra gente! E se tiver dúvidas ou precisar de ajuda em relação a esse ou outros assuntos mande um e-mail pra gente: bemyguesthospitalidade@gmail.com. Teremos muito prazer em te auxiliar!
Nos encontramos em breve!
Um grande abraço;
Cris
(Cris é hoteleira e designer de interiores, docente no SENAC e na Hotec e consultora na área - para saber mais sobre ela clique aqui)
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